Nebulosa Carina

Nebulosa  Carina
Nebulosa Carina

Baruch de Espinosa - Pensamentos Metafísicos



Século XVI
René Descartes
1596-1650
54 anos - França


Princípios da Filosofia Cartesiana



... Axioma VII - Toda e qualquer coisa, e toda e qualquer  perfeição atualmente existente de qualquer coisa, não pode ter o nada como causa de sua existência.
 Fica claro então,  que  qualquer  coisa ou o nada, possa existir como causa de sua própria existência.


Axioma VIII - O que há de realidade e perfeição em qualquer coisa, está formal e eminentemente em sua causa primeira e adequadamente.
  • Por formal, entenda-se que a causa contém toda a realidade do efeito com igual perfeição.



  • Por eminentemente, entenda-se que a causa contém toda a realidade do efeito, com mais perfeição, que o próprio efeito.



Século XVI
Baruch de Espinosa
1632 - 1677
(44 anos)
Holanda


Pensamentos Metafísicos
Os Pensadores Vol. XVII
Abril cultural -Victor Cívita
Transcritos em trechos de tradução
e notas de Marilena de Souza Chauí Berlink



Os Princípios de Descartes são uma exposição das principais teses da metafísica e da física cartesiana; vamos abordar neste texto apenas os princípios abordados nos axiomas VII e VIII acima expostos. 

Os Princípios da Filosofia Cartesiana de Espinosa são uma demonstração e não apenas uma exposição das mesmas teses, mas numa ordem tal que o conteúdo cartesiano é modificado pelo espinosano. (nota do tradutor).
Os Pensamentos Metafísicos são um apêndice aos Princípios da Filosofia Cartesiana, curso que Espinosa ministrou a um aluno particular e que publicou por insistência de Lodewijk Meijer.

O axioma VIII dos Princípios de Descartes está de forma intrínseca ligado ao axioma VII, pois seria um absurdo supor que nada ou menos do que nada, que está no efeito esteja na causa, pois o nada ou menos do que nada da causa, seria o nada ou menos que nada do efeito.








"Parte I"

Ente e suas afecções



Aqui, demonstra-se que a lógica e a filosofia comumente admitidas, servem somente para exercitar e fortificar a memória, para que possa reter as coisas percebidas pelos sentidos casualmente, sem ordem nem encadeamento, mas não servem para o exercício do intelecto.






Capítulo I

Definição de Ente


Conhecemos por Ente e entendo ser ente, tudo aquilo que por meio de uma percepção clara e distinta reconhecemos, que por sua natureza existe necessariamente, e, cuja essência envolve a existência.





Definição de Ente cuja essência não envolve a sua existência senão possivelmente

 O Ente cuja essência não envolve a sua existência senão possivelmente, divide-se expressamente em substância e em modo, mas não em substância e acidente, pois Acidente é um modo de pensar que denota apenas um aspecto, por exemplo: quando digo "um triangulo é movido", o movimento não é um modo do triângulo, mas é modo do corpo que é movido de maneira que o movimento é um acidente com respeito ao triângulo, mas com respeito ao corpo é um ente real ou um modo; pois o movimento não pode ser concebido sem o corpo, mas pode ser concebido  sem o triângulo.




Definição de Ente Verbal



Ente Verbal é entendido como aquilo cuja natureza envolve  uma contradição aberta, pois não estando no intelecto nem na imaginação, só pode ser expressa por palavras.
Por exemplo:
um círculo-quadrado pode ser expresso por nós em palavras, mas não pode ser imaginado de modo algum, e muito menos ser compreendido por nós. Podemos apenas  compreender separadamente o que seja Círculo ou Quadrado conforme figura abaixo por exemplo, mas nunca um círculo que seja quadrado.



Curiosidade a respeito da figura acima:
Observarmos na figura acima que o homem em posição de cruz inscrito dentro do quadrado,  parece estar imóvel e fixo no chão, mas quando o vemos inscrito dentro do círculo, ele parece estar flutuando acima do chão pois sua posição em X nos dá a impressão de movimento. Dessa forma, o quadrado implica em estabilidade e o circulo em movimento e dinâmica.



Quimera


Por sua própria natureza a Quimera não pode existir, só pode ser expressa por palavras, por isso uma quimera é apenas uma palavra, e pelo mesmo motivo, a impossibilidade de ser enumerada entre as afecções do Ente, sendo portanto mera negação, por sua própria natureza não pode existir, sendo considerado Ente Verbal.

Exemplo: ditos populares como é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que......








Definição de Não Ente ou Modo de Pensar



"Eu sou, só pode ser a primeira verdade conhecida
na medida em que pensamos".



Le Penseur
O pensador



Alegoria do Não Ente ou Modo de Pensar
Original se encontra no Museu Rodin - Paris
Escultura em bronze apresentada em 1904
do francês Auguste Rodin




França

1840 - 1917


Não Ente ou Modo de Pensar


Entendemos por Não Ente ou Modo de Pensar Todas as afecções do pensamento, tais como o intelecto, a alegria, a imaginação, etc.


Conhecemos por Não Ente ou Modo de Pensar, tudo aquilo   que,  por   meio  de  uma  percepção  clara  e distinta,  reconhecemos  que  por  sua  natureza,  não envolve a sua existência, é só pensamento.






  • Conhecemos por Não Ente ou Modo de Pensar, as coisas conhecidas que, para que sejam mais facilmente retidas, explicadas ou imaginadas denominados Razão.



Razão nada mais é  então,  que  apenas um não  ente ou  modo  de  pensar,  servindo   para que as coisas conhecidas, sejam mais facilmente retidas, explicadas ou imaginadas.





Fictício

Fictício por sua natureza exclui uma percepção clara e distinta, visto que um homem, partindo apenas de sua liberdade, ajunta aquilo que quer ou separa aquilo que quer separar, não sem saber como no falso, mas deliberada e cientemente.




"Sobre um carro purpúreo, atrelado 
a dois fogosos cavalos Lampo e Faetonte,
a bela Aurora transita agilmente pelo céu,
espargindo as luzes e as cores que embelezam 
a vida dos homens e anunciam a chegada do Sol".
Imagem de Mitologia - Abril Cultural
Afresco de Giovanni Francesco Barbieri,
mais conhecido como Guercino ou Il Guercino


1591-1666 (75 anos)
Emilia - romanha
Itália






Quais os modos de pensar por cujo intermédio retemos as coisas.




Há certos modos de pensar, que servem para que as coisas sejam retidas mais firme e facilmente, ou, para trazê-las de volta à mente quando queremos, ou para mantê-las presentes na mente, é o que pode ser constatado por aqueles que usam aquela regra bem conhecida da memória: certamente para reter e imprimir na memória uma coisa novíssima recorremos a uma outra que já nos é familiar e que concorda com a primeira realmente ou apenas pelo nome. Foi de um modo semelhante que os filósofos reduziram todas as coisas naturais a certas classes que denominaram gênero, espécie, etc., e a que recorrem toda vez que algo novo lhes aparece.







Quais os modos de pensar por cujo intermédio explicamos as coisas.


Também temos modos de pensar que servem para que as coisas sejam explicadas, determinando-as evidentemente por comparação com uma outra. Os modos de pensar que usamos para esse efeito denominam-se tempo, número, medida, e talvez haja outros. Destes, o tempo serve para a explicação da duração, o número, para a explicação das quantidades discretas e a medida para a quantidade contínua.








Quais os modos de pensar por cujo intermédio imaginamos as coisas.


Como todas as vezes que conhecemos uma coisa, estamos acostumados a figurá-la também com alguma imagem em nossa fantasia, pode acontecer que imaginemos positivamente não-entes como se fossem entes, pois a mente humana tomada em si mesma, como sendo uma coisa pensante,  tem uma potência igual tanto para afirmar quando para negar, disto decorre que, o imaginar nada mais é do que sentirmos, os vestígios deixados no cérebro excitado nos sentidos pelo objeto, tal sensação só pode ser uma afirmação confusa. Disso decorre que imaginemos como entes, todos aquele modos que a mente emprega para negar, tais como cegueira, extremidade ou fim, término, treva, etc.




Capítulo II


O que é o Ser da essência, 
o Ser da existência, 
o Ser da ideia o Ser da potência



Para que se perceba claramente o que entendemos por esses quatro seres, é necessário apenas que coloquemos ante nossos olhos, aquilo que dissemos a respeito da substância incriada, ou seja, não existe geração espontânea.

  • As  criaturas  estão  em  Deus  eminentemente,  ou seja, a  causa (criador) com  mais  perfeição  que  o próprio efeito (criatura).

  • Deus contém  eminentemente  com mais perfeição aquilo    que    é    encontrado    formalmente    nas criaturas, isto é, Deus tem  atributos tais, que todas as  coisas  criadas  estão  contidas  nele da maneira mais  eminente  e  perfeita, conforme  axioma VIII dos Princípios da Filosofia Cartesiana.


Por exemplo: concebemos claramente a extensão sem nenhuma existência (axioma 7) e assim como por si não tem nenhuma força para existir, demonstramos que foi criada por Deus. E porque deve haver na causa pelo menos tanta perfeição quanto no efeito, segue-se que todas as perfeições da extensão se encontram em Deus. Mas, porque em seguida vimos que a coisa extensa é divisível por natureza, isto é, contém uma imperfeição, não podemos por isso atribuir a Deus e temos que reconhecer que, encontra-se em Deus algum atributo que contenha as perfeições da matéria mais excelente e que possa preencher o lugar ocupado pela matéria.



  • Deus  se  conhece  a  si mesmo e a todas as coisas, isto é, também tem em sí objetivamente todas elas.

  • Deus  é  a  causa  de todas as coisas e opera apenas pela liberdade absoluta de sua vontade.               
             
Do que foi dito acima, vê-se claramente que podemos entender por esses quatro seres o seguinte:


O Ser da Essência é a maneira pela qual as coisas criadas estão compreendidas, e contidas nos atributos de Deus.

 Exemplo: Bergamota  é  o nome dado no Rio Grande do Sul à fruta tangerina. Seu óleo essencial, que podemos percebê-lo nos dedos ao dobrarmos a casca da tangerina é conhecido como Essência de Bergamota, que por sua textura  límpida  e pura, e agregar a outros aromas um leve frescor cítrico, é muito utilizado na produção de diversos perfumes. No nosso exemplo, o aroma do óleo essencial da bergamota é um dos atrativos químicos, utilizados pela planta, com finalidade objetiva da manutenção de sua existência, já que o fruto  é a proteção da semente, enquanto esta ainda não está apta à germinação de novo indivíduo.


O Ser da Ideia se diz  enquanto todas as coisas estão objetivamente e não aleatoriamente contidas na ideia de Deus.


Seres da natureza com olfato aguçado, quando em busca de alimento auxiliam de maneira extraordinária a polinização de inúmeras plantas, mantendo assim o equilíbrio das espécies. No nosso exemplo, o aroma do óleo essencial da bergamota é um dos atrativos químicos, utilizados pela planta, com finalidade objetiva da manutenção de sua existência, já que o fruto nada mais é, que a proteção da semente, enquanto está ainda não está apta para a germinação de novo indivíduo.


O Ser da Potência se diz com respeito à potência de Deus pela qual pôde, na liberdade absoluta de sua vontade, criar tudo o que ainda não existia."




Na contingência da necessidade de energia limpa e resultados não predatórios ao meio ambiente,vemos na foto, a incrível capacidade humana de utilizar seu conhecimento e liberdade absoluta de sua vontade, para criar uma forma de utilizar a energia eólica, para as inúmeras necessidades da sociedade atual. Porém para termos uma ideia melhor de como poderíamos entender o Ser da Potência (da capacidade de), reflitamos no fato de embora conhecermos, e, sabermos de várias formas usufruir dos benefícios dos ventos, está infinitamente distante de nós, a possibilidade de controlá-lo.



O Ser da Existência é a própria essência das coisas fora de Deus e considerada em si mesma e atribuída às coisas depois que foram criadas por Deus.




A essência cítrica do perfume, na realidade é o próprio aroma da tangerina fora da fruta, e, atribuído ao perfume, depois de extraído da tangerina.



... "esses quatro seres só se distinguem um dos outros nas criaturas, mas nunca em Deus, pois não concebemos que Deus  por exemplo esteja em Potência em alguma coisa e em Ideia em outra coisa.





Capítulo III


... De quantos modos uma coisa é dita necessária e impossível.


Uma coisa é dita necessária e impossível de dois modos:

  1. Com relação à essência, vimos que Deus é necessário, pois sua essência não pode ser concebida sem a existência, pois seria uma quimera.
  2. Com relação a causa, as coisas, por exemplo, as coisas materiais, podem ser ditas necessárias ou impossíveis, pois, se considerarmos apenas sua essência, podemos concebê-la clara e distintamente sem a existência, por isso não podem existir pela força e necessidade de sua essência, mas pela força de sua causa. Isto é, Deus criador de todas as coisas. Assim, se estiver no decreto divino que uma certa coisa exista, existirá necessariamente, e sem isto, será impossível que exista. Pois é manifesto por si que é impossível que exista aquilo que não tem nenhuma causa interna ou externa para existir. Quando afirmamos que uma coisa pode ser necessária e impossível em relação a sua causa, estamos na verdade afirmando que nem pela força de sua essência, o que entendo por causa interna, nem pela força do decreto divino, o que entendo por causa externa e única de todas as coisas, essa coisa não possa existir, donde decorre que não existe uma coisa necessária e impossível em relação a causa.

... As coisas criadas dependem de Deus quanto à essência e quanto à existência


Deve-se notar também, que não apenas a existência das coisas criadas, mas também a essência e a natureza delas, dependem exclusivamente do decreto de Deus. Decorre claramente daí, que as coisas criadas não têm por si mesmas nenhuma necessidade, visto que por si mesmas não têm essência alguma, nem existem por si mesmas.
A necessidade pela causa que está nas coisas criadas, refere-se à essência e à existência, mas em Deus ambas não se distinguem.
Enfim, deve-se notar que essa necessidade, que está nas coisas criadas pela força de sua causa, é relativa à essência ou à existência delas, pois nas coisas criadas ambas se distinguem.
  • A essência depende das leis eternas da Natureza.


força infinita em estado de inércia


  • A existência, da série e ordem das causas.



"Reorganização Cíclica 
cujo mediano é o Big- Bang"


Em Deus, cuja essência não se distingue da existência, também a necessidade da essência não se distingue da necessidade da existência, donde decorre que:


  • Se concebêssemos toda a ordem da Natureza, descobriríamos que muitas coisas cuja natureza percebemos clara e distintamente, isto é, cuja essência é necessariamente tal, que não podem existir de maneira alguma, pois notaremos que é impossível que tais coisas existam na Natureza assim como sabemos neste momento ser impossível, que um grande elefante caiba no buraco da agulha, embora percebamos claramente a natureza de um e de outro. Donde decorre que a existência dessas coisas seria apenas uma quimera que não podíamos imaginar nem entender anterior ao conhecimento da primeira lei de Newton onde ele leva em consideração o atrito que seria a força que age sobre a inércia.


... O que é possível; o que é contingente.

Uma coisa é tida possível, quando conhecemos sua causa eficiente, mas ignoramos se tal causa é determinada. Donde podemos considerar a própria causa como possível, mas não como necessária ou como impossível.
Diremos que uma coisa é contingente, quando a tomamos em sua essência simplesmente, sem considerar a causa, isto é, nós a consideramos, por assim dizer, como uma espécie de intermediário entre Deus e uma quimera, pois, com efeito, no que se refere à essência, não encontramos nela nenhuma necessidade para existir como na essência divina, e no que se refere à existência, nenhuma contradição ou impossibilidade como na quimera. Se se quiser chamar possível o que eu chamo contingente, e contingente o que chamo de possível, não contradirei, pois não costumo discutir sobre palavras. Bastará que nos concedam que ambos são apenas defeitos de nossa percepção e não são algo real. 


"Capítulo IV" 


Sobre a duração e o tempo da divisão do ente em ente cuja essência envolve a existência, e do ente, cuja essência não envolve nem mesmo a existência possível, origina-se a distinção entre eternidade e duração. O que é eternidade." "Aqui diremos apenas, que ela é o atributo sob o qual, concebemos a existência infinita de Deus." Existência esta que ultrapassa a origem do tempo como conhecemos. 


O que é Duração 


A duração é o atributo sob o qual, concebemos a existência das coisas criadas enquanto perseveram em sua atualidade. Disso decorrem claramente, que entre a duração e a existência total de uma coisa", "há apenas uma distinção de Razão. Quanto mais se subtrai a duração de uma coisa, tanto mais se subtrai, necessariamente, sua existência." o inverso também é verdadeiro. "Para determinar a duração, nós a comparamos com a duração daquelas coisas que possuem um movimento certo e determinado. Esta comparação chama-se tempo.


O que é Tempo


Assim, o tempo não é uma afecção das coisas, mas apenas um modo de pensar, ou, já dissemos, um ente de razão. Com efeito, é um modo de pensar que serve para explicar a duração. Deve-se notar aqui" "que duração é concebida como maior ou menor, como composta de partes e que é um atributo da existência e não da essência."




Escala de tempo geológico



Escala do Tempo Geológico representa o tempo, a partir do presente fazendo uma retrospectiva até a formação da Terra. A versão aqui apresentada, baseia-se na edição de 2004 do Quadro Oficial Estratigráfico Internacional da Comissão Internacional sobre Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas (ICS).




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